Poucos livros são tão amados como D. Quixote de La Mancha. Uma enquete mundial realizada em 2002 junto a uma centena de grandes escritores — entre eles Salman Rushdie, Nadine Gordimer, V. S. Naipaul, Wole Soyinka, Paul Auster, Orham Pamuk — apontou-o, disparado, como o melhor da história da literatura.
Difícil saber ao certo como ele consegue a façanha de ser tão amado quatrocentos anos depois de escrito, seduzindo multidões de leitores a cada nova geração. Italo Calvino nos dá algumas pistas da magia em seu Por que ler os clássicos. Tudo aquilo que, segundo o escritor italiano, define esse fenômeno do espírito humano conhecido como "clássico" cai como uma luva em D. Quixote: é um livro inesquecível, conhecido até por quem não o leu. Uma obra que nunca acaba de mostrar o que tem a dizer, cabendo a cada leitor um novo grão de descoberta, e que sempre oferece uma surpresa em relação à imagem que tínhamos dele. Uma enorme riqueza não só para quem o leu e amou, e se delicia a cada nova releitura, mas também para quem o guarda para um momento mais propício.
A obra-prima de Miguel de Cervantes é, ainda, unanimemente considerada um divisor de águas da literatura ocidental, uma criação que estabeleceu um novo marco de possibilidades, influenciando escritores como William Shakespeare, Laurence Sterne, Gustave Flaubert, Fiódor Dostoiévski, Hermann Melville, Machado de Assis, Franz Kafka, James Joyce, Thomas Mann, William Faulkner, Jorge Luis Borges, Mario Vargas Llosa.
O primeiro volume, publicado em 1605, inclui os mais famosos episódios protagonizados — e hilariamente comentados — por D. Quixote e Sancho Pança: o nascimento do anti-herói, saído das fantasias de um fidalgo que enlouqueceu de tanto ler livros de cavalarias, sua carnavalesca "sagração" como cavaleiro, a batalha com os moinhos de vento, o combate com os exércitos de carneiros e um rosário duelos e desafios com os mais diversos e estranhos personagens, incluídos sangrentos odres de vinho. Mas o romance encanta, acima de tudo, por seu modo ludicamente revolucionário de narrar, interpelando o leitor desde as primeiras linhas, expondo as supostas peripécias do próprio escrito, trabalhando verdades e ficções com fina e impagável ironia.
O livro inclui também diversas histórias paralelas que se entrecruzam com as da dupla protagonista, entre elas a "Novela do Capitão Cativo", considerado o texto mais autobiográfico de Cervantes, que recria episódios da guerra contra os turcos e do cativeiro em Argel que o autor de fato viveu. Também traz a história de Cardenio, o louco apaixonado, que impressionou profundamente Shakespeare, a ponto de ele escrever uma peça homônima, hoje desaparecida.
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